Toki Tori 2


Toki Tori foi um jogo original da GameBoy Color que teve direito a um remake para WiiWare, o serviço de jogos digitais da Wii. Nele, controlávamos um pintainho que queria salvar os seus irmãos, ainda dentro dos ovos. Para isso, tinha algumas ferramentas em quantidades limitadas à sua disposição, sendo um jogo de puzzle que consistia em decifrar uma forma de conseguir o ovo existente em cada nível  com os recursos disponíveis. Sabendo isto, aliado ao sucesso relativamente recente do jogo na Wii, foi uma enorme surpresa descobrir que Toki Tori 2 é um jogo completamente diferente. Dito isto, é importante informar que tudo o que mais se disser acerca do jogo pode ser considerado um spoiler mas, como uma análise não pode dizer apenas "descubram vocês mesmos", segue uma explicação.

Toki Tori 2 não quebrou apenas com o formato do jogo original, mas com tudo o que estamos habituados hoje em dia num videojogo em termos de explicações, menus e ajudas. Não há ecrã de título, nem "Press Start", não há uma única palavra em todo o jogo, muito menos para dizer o que é para fazer. Ao ligar o jogo pela primeira vez, uma imagem explica que um botão permite piar e outro permite dar um saltinho contra o chão. O menu do jogo tem apenas alguns ícones para algumas funções que não podiam ser feitas de outra forma e o próprio manual do jogo diz apenas duas coisas: o que fazem os botões já mencionados e "descobre por ti". Nada mais desconcertante, numa era em que os jogos habitualmente levam o jogador "ao colo".

Então somos um pintainho, que se chama Toki Tori, sabe piar e consegue dar um pulinho mas não consegue saltar e muito menos voar. E estamos numa floresta. Resta agora descobrir o que é para fazer! Alguns insectos reagem ao piar do Toki, outros reagem ao impacto do saltinho, alguns reagem às duas coisas de formas diferentes. Uma experiência aqui, outra ali, e abre-se um caminho através da interacção com os animais e eventuais reações em cadeia. A cada avanço no ecrã, surge um novo puzzle, estando presente tudo o que é necessário para o resolver com as duas únicas ações do pintainho e as reações do que o rodeia. De vez em quando, surge uma porta para outro cenário. Esta transição apresenta um mapa visto de cima que revela a posição do pintainho no mundo, mas não tem um X marcado a dizer qual é o destino. Ainda assim, revela elementos que podem ser vistos no cenário, ao fundo, e dar algum sentido de orientação ao jogador. O mapa do jogo é realmente interessante, com oito níveis de profundidade ligados por portas em locais específicos e com locais bastante variados, desde florestas a cavernas e até cidades.

Quanto mais exploramos, mais descobrimos e aprendemos. E quanto mais aprendemos, mais podemos explorar. Ao regressar atrás, descobrimos soluções alternativas para os puzzles que fomos aprendendo com outras interacções e, assim, abrimos novos caminhos. Recentemente, os criadores do jogo partilharam no seu blog que criaram uma espécie de Metroidvania... e têm razão. Talvez até mais elaborado, pois aqui não há um mapa sempre acessível que indica as áreas onde não se conseguia aceder anteriormente, mas a grande diferença é que em Toki Tori 2 os caminhos não estão bloqueados: nós, jogadores, é que podemos ainda não saber a resposta! Isto porque há locais onde é fácil perceber como se consegue resolver certo tipo de puzzle e outros onde o mesmo tipo de puzzle não é evidente e, por isso, passa despercebido.

O jogo oferece algumas ajudas através de pistas no cenário. Por exemplo, há uma situação onde é muito provável ficar-se encravado sem saída possível. Nesse mesmo local, há um passarinho a piar repetidamente o mesmo padrão musical. Ao piar da mesma maneira, Toki Tori é teleportado para o último checkpoint, ensinando assim a fazer reset a um puzzle, mas de forma subtil. No entanto, há imensas situações em que simplesmente não há ajuda nenhuma e resta-nos apenas a criatividade. Quando nem isso chega, o que fazer? Tentar explorar outro caminho, ou então desligar o jogo e tentar mais tarde com uma nova perspectiva. Jogar com amigos por perto e fazer disto um desafio colectivo? Ou então desistir: partilhar um screenshot no Miiverse para pedir ajuda ou procurar um guia online.


Toki Tori 2 é um jogo surpreendente e fascinante, com um estilo gráfico polido e adorável, música viciante e puzzles absolutamente geniais. O único problema é que, por vezes, os puzzles são demasiado geniais e parecem quase impossíveis. Não é possível saltar à frente de um puzzle muito difícil e não existe qualquer ajuda no jogo, nem apenas no manual. É isto o que faz dele um jogo brilhante, mas também que pode desmotivar os menos persistentes. Estaremos demasiado habituados a "tutorials", "hint coins" e "super guides"? Ou ainda nos deixamos levar pelo fascínio da descoberta e aventura? Vale a pena tentar.

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